DENISE LUNA para Folha de Sao Paulo
DO RIO
A CVM (Comissão de Valores Mobiliários) pediu esclarecimentos à Petrobras sobre a nova fórmula para ajuste de combustíveis, anunciada pela estatal na sexta-feira com a ressalva de que os parâmetros da nova fórmula não seriam divulgados.
A falta de transparência da fórmula, aliada a um ajuste abaixo do esperado para a gasolina e o diesel fizeram as ações da companhia despencarem mais de 10% na segunda-feira, uma perda de valor para a empresa estimada em cerca de R$ 24 bilhões.
Em comunicado hoje (4) à CVM, a Petrobras informou que a metodologia "contém parâmetros variáveis como preço de referência dos derivados no mercado internacional, taxa de câmbio e ponderação associada à origem do derivado vendido, se no Brasil ou importado".
A empresa ressaltou no entanto que a aplicação dos ajustes não será automática, como consequência direta da fórmula de precificação. Mas não informou quando os ajustes seriam feitos.
"A metodologia estabelece bandas de reajuste, conferindo à diretoria executiva poder discricionário à luz da dinâmica dos mercados doméstico e internacional", disse a nota sem mais detalhes.
GRAÇA FICA
A estatal refutou ainda especulações sobre a saída da atual presidente, Graça Foster, que segundo fontes teria desagradado o governo com a divulgação antecipada da proposta de uma nova fórmula para ajuste de combustíveis.
O governo resiste ao aumento dos combustíveis da Petrobras para evitar impacto na inflação, cuja meta (4,5%) já foi estourada este ano e deve encerrar o exercício mais próxima do teto da banda estabelecida entre 2,5% e 6,5%.
Segundo fontes próximas ao assunto, o anúncio da fórmula, em uma entrevista concedida por Graça em outubro gerou desconforto para o ministro da Fazenda, Guido Mantega, também presidente do Conselho de Administração da Petrobras, que teria sido pego de surpresa.
Na noite de sexta-feira (29), após reunião do Conselho da companhia, a Petrobras anunciou que iria ajustar a gasolina em 4% e o diesel em 8%, apesar da defasagem em relação ao mercado internacional girar em torno dos 15% e 20%, respectivamente.
Com aumento menor, e sem poder calcular pela nova fórmula quando será o próximo ajuste, o mercado puniu as ações da empresa com a venda das ações, o que foi considerado "um ajuste de portfólio" por alguns analistas, e "pânico" por outros.
O entendimento, segundo o economista-chefe da SLW Corretora, Pedro Galdi, é de que a Petrobras "continua nas mãos do governo e como 2014 é ano de eleições, continuará a ser prejudicada".
Quando a adoção da fórmula secreta foi anunciada pela Petrobras na sexta-feira, a empresa afirmava que o objetivo da sua criação era dar maior previsibilidade aos ajustes, não repassar a volatilidade dos preços internacionais para o mercado doméstico e convergir, em um prazo compatível, os preços do mercado externo com o interno.
Estabeleceu também que no prazo de 24 meses os indicadores de endividamento e alavancagem (quanto da geração de caixa consegue pagar as dívidas da companhia) voltariam aos estabelecidos pela empresa no Plano de Negócios 2013-2107, mas que foram abandonados pela redução da receita, ocorrida pela queda de produção, e o aumento das importações de derivados no mercado externo a preços maiores do que no Brasil.